sábado, 21 de março de 2009

Resumão: Oríon, de Mário Cláudio


Mais um resumão!!! Desta vez, do romance Oríon, cuja autoria pertence ao escritor português contemporâneo Mário Cláudio. É excelente para quem gosta de história colonial e quer conhecer, através do fantástico e ficcional, um pouco mais sobre a perseguição aos judeus naquela época: é uma viagem para o Portugal dos séculos XV e XVI e para a Ilha de São Tomé e Príncipe. BOA VIAGEM!




Antes, um pouquinho sobre o autor:


Mário Cláudio é apenas o pseudônimo do escritor, que na verdade se chama Rui Manoel Pinto Barbot Costa. Além de autor de romances e licenciado em direito, Mário Cláudio, escreve também poesias, peças de teatro e ensaios, tendo já reconhecida a qualidade de seu trabalho com prêmios como APE de romance e novela, com a obra Amadeo, de 1984; Prêmio Pessoa em 2004 e Prêmio Vergílio Ferreira em 2008.


Resumo:



Oríon (2003), de Mário Cláudio, conta a história de sete crianças judias, Abel, Raquel, Débora, Caim, Benjamin, Séfora e Jairo, que devido à perseguição religiosa do reino português, mais precisamente, D. João II, aos judeus, são bruscamente separadas de suas famílias, sendo expulsas de Portugal e exiladas na Ilha de São Tomé e Príncipe como uma forma de punição aqueles que ousassem "desafiar" os mandamentos cristãos.


Em 1493, pisam as crianças, pela primeira vez, o solo da colônia portuguesa, deixando para sempre a sua terra e as suas desoladas mães. A partir daí, cada uma delas seguirá o seu próprio caminho, separadas, com exceção de Abel e Raquel, que se casam, umas das outras, mas unidas, entretanto, pela sua origem, história de vida e de fé.


A narrativa, que não é linear, mas fragmentalmente constituída através das reminiscências do narrador-personagem Abel, exige a malícia do leitor para organizar cronologicamente os fatos sem confundí-los. Abel, que tem intercalada a sua narração com outro foco narrativo, esse em terceira pessoa, conta tudo o que pode lembrar de sua jornada, desde a perseguição, em Portugal, até o presente momento, em São Tomé, de que parte a narrativa. Apesar de velho e doente, Abel se vangloria pelas conquistas que teve de se tornar senhor de engenho, contrariando totalmente as expectativas do rei de Portugal e de toda a gente de Lisboa, que acreditavam na morte certa das crianças judias ou na pútrida e insalubre viagem ou na própria Ilha, perdidas na selva.


Raquel, que também teve seu momento de glória, ao casar-se com Abel e, portanto, tornar-se igualmente dona de engenho, morre muito jovem. Ela se caracteriza principalmente pelo dom de cura que herdou da mãe, ambas consideradas, por esse motivo, feiticeiras. Sobre Débora recai toda a crueldade humana. Violentada durante a viagem marítima pelo juiz Gonçalo Anos, a criança destrói a boneca que sempre carregava e se torna promíscua, dormindo com todos os homens da Ilha, casados ou não. Após ter perdido violentamente os três filhos, assassinados, retira-se para a selva, e numa caverna se metamorfoseia em cobra, realizando, ao lado de seu parceiro e protetor, um delinquente português também mandado a conlônia, vários milagres.


Caim, menino considerado apto aos afazeres religiosos, comete o pecado original, o da fornicação, com a sedutora Úrsula, e é por ela denunciado às autoridades de São Tomé. Depois de ser humilhado e condenado, consegue fugir para o interior da selva e ser aceito no quilombo, desenvolvendo o seu lado obscuro. Caim se torna chefe do quilombo com o passar dos anos e instaura uma revolta que irá fazer vítimas homens, mulheres e crianças inocentes moradores da Ilha.


A criança dourada, Benjamim, doce e pueril desaparece, causando grande embaraço em autoridades, como o donatário da colônia Álvaro de Caminha. O sumisso misterioso de Benjamim produz a crença de que se tornou divino e subiu aos céus. A partir daí, a história será sempre alimentada com casos e mais casos de milagres supostamente realizados pela criança arrebatada.


Séfora herda a fortuna de seu senhor António Carneiro impondo-se, após a morte do mesmo, sobre as demais amantes; e Jairo, por fim, menino ambicioso, que sempre se mostrou frio e desapegado aos seus semelhantes, e bastante habilidoso na labuta marinha, conquista a confiança de Álvaro de Caminha e se torna traficante de escravos. Violenta centenas de meninas e mulheres escravas, tornando-se obcecado pela fornicação, morre de forma lastimável, tomado pelas doenças venéreas e sofre da maudade que ele mesmo cometeu ao se conscientizar na hora da morte do mal que fez a tantas crianças e mulheres de quem ele abusou.


Com o pouco que podemos observar neste resumo, notamos que o leitor tem o papel imprescíndivel nesse romance, assim como tem o astrônomo ao observar as estrelas. Como esse último, que junta em uma linda constelação, transformando todas as sete estrelas de Oríon, separadas por milhares de quilômetros, em uma única e grande figura; depende do olhar do ledor para que essas sete crianças separadas de seus pais e de sua terra tornem-se todas, mesmo que fisicamente distantes umas das outras, uma única e grande representação da história que perseguiu e matou, mais do que corpos, almas. Carregando a mesma história, a mesma natureza, assim como as estrelas, as crianças formam um excelente romance para se pensar o passado.

Marcela Teixeira Barbosa

quinta-feira, 12 de março de 2009

Crônica: Uma fatia de torta e um pouco de sexo, por favor


Nunca acreditei nas pesquisas que apresentavam maior porcentagem de mulheres que preferiam comer chocolate a fazer sexo. É evidente que para tudo, seja qual for a escolha, há prós e contras. Existem lá suas vantagens e desvantagens em comer um bom chocolate, assim como em fazer sexo; mas, para mim, independentemente de qualquer que fosse o chocolate, sexo, quando bem feito, seria sem dúvidas insuperável. Todavia, da mesma forma como acontece às personagens de Clarice, toda a minha certeza acerca do assunto abalou-se em questão de segundos: "Explosão"!

Bastou um talher, um prato, a torta.

Enquanto tudo girava ao meu redor, tamanho era o gozo, entendi o que antes era para mim inadimissível: sim, existe prazer maior do que o alcançado com o sexo. Meu eu vacilou, uma exceção estava transformando a minha visão de mundo: me dei conta do quanto fui cruel ao julgar frígidas aquelas pobres chocólatras entrevistadas. Não senti culpa, entretanto, visto que naquele momento de degustação plena, eu não era mais nada além de torta e boca, assim como não se é nada no instante em que morremos e renascemos.

Perdida naquele pedaço que se desfazia dentro de mim, somente o olhar fixo e espantado dos que me rodeavam trouxeram-me de volta à realidade compartilhada. O mundo se tornou chato outra vez.

Então, quando pensei estar convencida de que aquela, não outra, apenas e unicamente aquela torta era melhor do que sexo, eis que uma das atendentes abre a porta de acesso para a cozinha, permitindo-me, por breve instante, ver o confeiteiro: per-fei-to!

Novamente vacila o meu eu interior, mais uma vez minha certeza titubeia: talvez eu só estivesse com muita fome, aquela torta não podia ser melhor do que sexo.

E como não é possível ter tudo na vida, como não é direito entrar em uma confeitaria e pedir "uma fatia dessa torta e sexo com aquele confeiteiro, por favor" contentei-me em comprar uma outra fatia para viagem, certa de que, sendo eu uma pessoa ativa, amante de exercícios físicos, não poderia aquela torta me decepcionar no dia seguinte.


Marcela Teixeira Barbosa