segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Moinho




Esperava achá-lo feio como na primeira vez em que o viu, mas ele estava de costas e grande foi a decepção por notá-lo ainda mais bonito. Cruzou rapidamente o pátio da escola, porque sabia que ele daria aula às nove, e ficou aguardando do lado de fora do prédio pela sua passagem. Em câmera lenta, mas fugaz, com um embrulho na mão, os cabelos amarrados, os olhos azuis a mirarem-na por um único instante, que não se agarra com as mãos, mas com o coração... triste, visto que já se desviou sem notar os olhos que o acompanharam fixamente.
O ir para a escola se tornou outro: nunca mais se esteve na sala de aula. A vida era agora esperar, como uma grávida, esperava por ele, esperava-o, dentro de si, mesmo estando ele fora.
E como explicar que o amor existe no mundo de carne e carne dos adolescentes? E como mostrar aos demais que não se tratava daquilo, mas de um querer doído e bom que não acaba nem quando ela não mais o pode ver, com os olhos? O amor era tão forte, tão intenso que precisava se livrar dele, senão morreria, ah! morreria... morreria com gosto, agonizando eternamente... como morriam as donzelas de Shakespeare.
E para não morrer escreveu, escreveu, escreveu, deitando nos papéis o seu amor escondido e covarde, porque os papéis não tinham que entender nada, porém a julgariam mais tarde pela falta de atitude. Mas que atitude se pode ter quando se é apenas uma adoscescente perante um homem? São mil tabus e um milhão de preconceitos contra o grande, enorme, imensurável amor de uma adolescente, visto como uma paixonite da idade.
Esperava não sentir mais aquele saudosismo do que não foi quando ele passou... mas sentiu... inevitável. Mais um ser humano derrotado pelo amor. Uma adolescente derrotada, sentiu.


Marcela Teixeira Barbosa