
Sou uma dependente de pessoas. Com os olhos atraio-as a mim e com elas permaneço. Faço-as minhas, eu as possuo, as respiro. As escolhidas, cada uma a seu tempo, se tornam a minha matéria-prima, a minha fonte de energia, meu combustível para a vida. Assim, eu vivo, vivo com elas, morrendo e renascendo a cada minuto.
Então, quando tudo parece durar para sempre, logo logo estou me apropriando de outras. Retenho as suas imagens até que outras as venham novamente substituir, sem que eu mesma perceba. E no caso de esquecê-las, passo semanas, anos, por vezes séculos a vagar, como uma alma perdida pelo baixo mundo, sem energia e sem inspiração para ser. As lembranças não se esvaem, mas deixam marcas que ora não mudam nada ora me penetram ainda mais na escuridão.
E quando pareço perdida e me desespero, como um espectro que anseia por se libertar do negrume da melancolia, eis que cruza uma luz à minha fronte, e sem vacilar sugo-a para mim, não dando a ela nenhuma chance. Confisco-a e dela faço o que é bem de desejo meu: apodero-me da vida, até que a luz não me desperte mais nada e eu passe por tudo mais uma vez eternamente.
Caminho colecionando vidas, imagens, pessoas, possuida pelo mais profundo desejo de que, num dia ou numa noite qualquer, encontre aquela que me ajude a encerrar a coleção, não se tornando em mim apenas mais uma lembrança, mas o meu presente. Para sempre.
Marcela Teixeira Barbosa