terça-feira, 7 de abril de 2009

Ladrão cristalino: que cura e que destroi


Estou estudando o período barroco e tudo o que ele significou para a nossa história, para a nossa arte e encontrei um poema muito divertido no livro de Ana Hatherly, O ladrão cristalino: Aspectos do Imaginário Barroco. O livro é ótimo pra quem se interessa pelo tema, contém diversos artigos interessantíssimos, mas o que importa aqui neste post o poema, então aí vai.

(A imagem acima é do quadro de Antonio de Pereda, El sueño del caballero, sec. XVII. Sendo o poema barroco, não poederia deixar de ilustrar essa postagem com uma pintura também barroca e que trata obviamente da efemeridade da nossa vida e de nossos sonhos)

Ao tempo
(Jorge da Câmara - sec. XVII)


O tempo de si mesmo pede conta,
é necessário dar conta do tempo,
mas quem gastou sem conta tanto tempo,
como dará sem tempo tanta conta?


Não quer levar o tempo em conta
pois conta se não faz de dar-se tempo
onde só conta havia para tempo
se na conta do tempo houvesse conta.


Que conta pode dar quem não tem tempo?
em que tempo dará, quem não tem conta?
que quem à conta falta falta o tempo.


Vejo-me sem ter tempo e com ruim conta,
sabendo que hei-de dar conta do tempo
e que se chega o tempo de dar conta.


------- (fim do poema) ----------------


Conclusão: Dispomos de pouco tempo e muita conta para darmos conta ao pouco tempo que temos para dar conta da conta que temos.


Marcela Teixeira Barbosa

Um comentário:

  1. "Dispomos de pouco tempo e muita conta para darmos conta ao pouco tempo que temos para dar conta da conta que temos."
    Isso embolou a minha cabeça..haha Interessante jogo de palavras que combina com a complexidade barroca de viver e de pensar. Ótimo post!

    um abraço

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