
Neste blog você encontra artigos dos mais variados temas: educação, literatura, filmes, política, imprensa dentre outros. O blog também está aberto a produções literárias: de prosa a poesia. Sejam BEM-VINDOS todos os AMANTES da ARTE e de todas as demais formas de manifestação do PENSAMENTO e da ALMA!!
domingo, 10 de maio de 2009
terça-feira, 5 de maio de 2009
BEIJOIJEB
sábado, 25 de abril de 2009
Crônica: Meu eterno vício

terça-feira, 7 de abril de 2009
Ladrão cristalino: que cura e que destroi

onde só conta havia para tempo
sábado, 21 de março de 2009
Resumão: Oríon, de Mário Cláudio

Antes, um pouquinho sobre o autor:
Mário Cláudio é apenas o pseudônimo do escritor, que na verdade se chama Rui Manoel Pinto Barbot Costa. Além de autor de romances e licenciado em direito, Mário Cláudio, escreve também poesias, peças de teatro e ensaios, tendo já reconhecida a qualidade de seu trabalho com prêmios como APE de romance e novela, com a obra Amadeo, de 1984; Prêmio Pessoa em 2004 e Prêmio Vergílio Ferreira em 2008.
Resumo:
Oríon (2003), de Mário Cláudio, conta a história de sete crianças judias, Abel, Raquel, Débora, Caim, Benjamin, Séfora e Jairo, que devido à perseguição religiosa do reino português, mais precisamente, D. João II, aos judeus, são bruscamente separadas de suas famílias, sendo expulsas de Portugal e exiladas na Ilha de São Tomé e Príncipe como uma forma de punição aqueles que ousassem "desafiar" os mandamentos cristãos.
Em 1493, pisam as crianças, pela primeira vez, o solo da colônia portuguesa, deixando para sempre a sua terra e as suas desoladas mães. A partir daí, cada uma delas seguirá o seu próprio caminho, separadas, com exceção de Abel e Raquel, que se casam, umas das outras, mas unidas, entretanto, pela sua origem, história de vida e de fé.
A narrativa, que não é linear, mas fragmentalmente constituída através das reminiscências do narrador-personagem Abel, exige a malícia do leitor para organizar cronologicamente os fatos sem confundí-los. Abel, que tem intercalada a sua narração com outro foco narrativo, esse em terceira pessoa, conta tudo o que pode lembrar de sua jornada, desde a perseguição, em Portugal, até o presente momento, em São Tomé, de que parte a narrativa. Apesar de velho e doente, Abel se vangloria pelas conquistas que teve de se tornar senhor de engenho, contrariando totalmente as expectativas do rei de Portugal e de toda a gente de Lisboa, que acreditavam na morte certa das crianças judias ou na pútrida e insalubre viagem ou na própria Ilha, perdidas na selva.
Raquel, que também teve seu momento de glória, ao casar-se com Abel e, portanto, tornar-se igualmente dona de engenho, morre muito jovem. Ela se caracteriza principalmente pelo dom de cura que herdou da mãe, ambas consideradas, por esse motivo, feiticeiras. Sobre Débora recai toda a crueldade humana. Violentada durante a viagem marítima pelo juiz Gonçalo Anos, a criança destrói a boneca que sempre carregava e se torna promíscua, dormindo com todos os homens da Ilha, casados ou não. Após ter perdido violentamente os três filhos, assassinados, retira-se para a selva, e numa caverna se metamorfoseia em cobra, realizando, ao lado de seu parceiro e protetor, um delinquente português também mandado a conlônia, vários milagres.
Caim, menino considerado apto aos afazeres religiosos, comete o pecado original, o da fornicação, com a sedutora Úrsula, e é por ela denunciado às autoridades de São Tomé. Depois de ser humilhado e condenado, consegue fugir para o interior da selva e ser aceito no quilombo, desenvolvendo o seu lado obscuro. Caim se torna chefe do quilombo com o passar dos anos e instaura uma revolta que irá fazer vítimas homens, mulheres e crianças inocentes moradores da Ilha.
A criança dourada, Benjamim, doce e pueril desaparece, causando grande embaraço em autoridades, como o donatário da colônia Álvaro de Caminha. O sumisso misterioso de Benjamim produz a crença de que se tornou divino e subiu aos céus. A partir daí, a história será sempre alimentada com casos e mais casos de milagres supostamente realizados pela criança arrebatada.
Séfora herda a fortuna de seu senhor António Carneiro impondo-se, após a morte do mesmo, sobre as demais amantes; e Jairo, por fim, menino ambicioso, que sempre se mostrou frio e desapegado aos seus semelhantes, e bastante habilidoso na labuta marinha, conquista a confiança de Álvaro de Caminha e se torna traficante de escravos. Violenta centenas de meninas e mulheres escravas, tornando-se obcecado pela fornicação, morre de forma lastimável, tomado pelas doenças venéreas e sofre da maudade que ele mesmo cometeu ao se conscientizar na hora da morte do mal que fez a tantas crianças e mulheres de quem ele abusou.
Com o pouco que podemos observar neste resumo, notamos que o leitor tem o papel imprescíndivel nesse romance, assim como tem o astrônomo ao observar as estrelas. Como esse último, que junta em uma linda constelação, transformando todas as sete estrelas de Oríon, separadas por milhares de quilômetros, em uma única e grande figura; depende do olhar do ledor para que essas sete crianças separadas de seus pais e de sua terra tornem-se todas, mesmo que fisicamente distantes umas das outras, uma única e grande representação da história que perseguiu e matou, mais do que corpos, almas. Carregando a mesma história, a mesma natureza, assim como as estrelas, as crianças formam um excelente romance para se pensar o passado.
Marcela Teixeira Barbosa
quinta-feira, 12 de março de 2009
Crônica: Uma fatia de torta e um pouco de sexo, por favor

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Resumo: O Púcaro Búlgaro

Mais um resumão!!! Agora do romance O Púcaro Búlgaro, de Campos de Carvalho.
Resumo:
Podemos dizer que, pelo menos, um dos objetivos do romance O Púcaro Búlgaro, de Campos de Carvalho, é apontar a alienação que caracteriza a nossa sociedade. A história é narrada pelo personagem principal do romance: um senhor herdeiro que vive a espionas janelas vizinhas com o seu binóculo e a escrever os acontecimentos do seu dia em seu diário. O personagem começa a sua narrativa afirmando que o que escreve em seu diário é uma "grande e misteriosa empreitada – tão misteriosa que eu mesmo me esqueci de qual seja" (pág 319), levando o leitor, desde o princípio, a desconfiar que talvez a personagem não domine bem as faculdades mentais.
O personagem deixa a mulher sozinha na Filadélfia após se deparar com um púcaro búlgaro no Museu Histórico e Geográfico de Filadélfia. Inconformado, pois ele não acredita na existência da Bulgária, por isso o púcaro não poderia ser búlgaro, deixa os EUA e volta para o Brasil decido a confirmar se o que se passara no museu fora verdadeiro.
Depois de ter confirmado pelo diretor do museu, através de troca de correspondências, a existência do púcaro búlgaro, a personagem, ainda incrédula da existência de um púcaro que seja búlgaro, toma uma segunda medida: anuncia na página "mais lida" do jornal, a necrológica, uma expedição à Bulgária.
A partir daí entrarão na história personagens também não muito lúcidas como Radamés, o professor de bulgarologia; Penacchio, que só anda inclinado para esquerda devido a uma neurose adquirida por morar ao lado da Torre de Pisa, na Itália; Ivo que viu a uva, dono de todos os zeros do mundo e Expedito que foi aceito na expedição imediatamente por causa do seu tão sugestivo nome. Não se pode esquecer de Rosa, personagem feminina que aparece apenas como objeto sexual ao longo de toda a narrativa.Todos eles, com exceção desta última, trabalharão para, quem sabe se em dias ou séculos, descobrir a Bulgária e decretar se ela é ou não um mito.
Depois do MSPDIDRBOPMDB (Movimento Subterrâneo Pró-Descoberta ou Invenção
Definitiva do Reino da Bulgária Ou Pelo Menos De Búlgaros) finalmente decidir que partirão rumo a Bulgária, num navio um pouco maior do que um daqueles feitos dentro de garrafas, e quantos quilos de vaselina ou quantas garrafas de uísque ou gim ou cachaça, dentre muitas outras coisas "úteis", levarão para a viagem, percebem-se impossibilitados de realizar a expedição, visto que foram furtados por Expedito e por Rosa, não possuindo, portanto, recursos para a viagem.
Os expedicionários, sem mais expedição, separam-se, e eis que Radamés revela-se búlgaro e confessa ter entrado nessa empreitada apenas para ficar mais próximo de Rosa, mulher que o atraía há um tempo.
É claro que o romance não tem apenas o objetivo de contar a história de cinco loucos que não acreditam na Bulgária: é através das divagações e conversas sem sentido entre eles, que o autor lança, quando menos se espera, críticas relevantes contra e para a sociedade. Como prova disso temos a esposa da personagem principal que, assim como Rosa, aparece somente como objeto sexual; a primeira como um produto que já perdeu a validade, “Foi uma mulher boa enquanto foi boa, depois as nádegas lhe cresceram tanto que eu tinha dificuldade até de atingir a cozinha, estando ela nas imediações” (pág. 320), e a segunda como a que dá para o gasto: “Rosa dá para o gasto, e eu sou o gasto” ( pág. 351).
Críticas sobre o homem inconsequente, que fala demais, aparecem não apenas uma vez: “Se o morto é tão acatado e respeitado é justamente devido ao seu espantoso silêncio, algo que escapa à compreensão de qualquer mortal e o torna, ao morto bem entendido, o menos entendido de todos os mistérios da natureza, seja ela feminina ou masculina” (pág. 323-324) e mais à frente, “O expedicionário e professor Radamés contestou veemente que se tratasse de uma degenerescência, parecendo-lhe tal fato antes um sinal de sabedoria e manifesta superioridade sobre o homem, que justamente se perde pela boca e vive perdendo a cabeça (...) defecamos tanto por cima quanto por baixo” (pág 359). A narrativa contém temas como antropofagia para questionar a “civilidade” humana: “muito pior do que comer o seu semelhante é fazer com ele o que se vem fazendo desde que o mundo é mundo, sobretudo entre as classes dominantes e cujo domínio é tão incerto quanto os domínios britânicos ou de qualquer espécie” (pág. 359) e mais à frente sobre a ambição, “o gato não devora o rato quando se sentia enfastiado, ao passo que o homem mesmo enfastiado devoraria o seu semelhante se tivesse a certeza de que a carne deste era tão boa quanto a carne de vaca ou mesmo de cavalo (...) conceitos ou preconceitos morais e religiosos nunca evitaram coisíssima nenhuma, como atestam os tempos de guerra e sobretudo os tempos de paz” (pág. 360) .
As críticas não param por aí, elas surgem para apontar a hipocrisia da vida em sociedade, “Sempre fui, sempre serei um crápula. Um crápula que dorme com uma rosa, no escuro para que o julguem menos crápula – os crápulas” (pág. 325), os idosos, “Pessoalmente tenho uma teoria muito particular sobre esses venerandos destroços que insistem em continuar atravancando o nosso caminho” (pág. 339), os crentes, por exemplo, “Eu adoro os veados, mas a longa distância como fazem os crentes com o seu deus, que fazem tudo para ver o mais tarde possível, se possível nunca” (pág. 354) os indivíduos e o governo, “Você deixa que os outros pensem por você e decidam sobre o que você deve fazer; e como os outros, por sua vez, estão deixando que alguém pense ou decida por eles, acaba ninguém pensando nem decidindo coisa nenhuma, o que é justamente o que o governo quer faz o possível para que aconteça” (pág. 253) e, por fim, e talvez mais relevante a alienação, por exemplo, “O único perigo, acrescentou, é encontrar petróleo...” (pág 369).
Outro fator importante, mas que não aprofundaremos aqui, é o jogo de palavras presente em quase todo o momento dentro do texto: “Mas um procurador, além de ser difícil procura-lo (...) como todo procurador que bem procura” (pág. 336); “as da tataraneta ainda mais sensuais sob o justo mas injusto vestido negro” (pág. 351).